Sem ganhar um título desde 1968 o Botafogo entrou naquela final disposto a dar um fim no tabu. E seu adversário era o Flamengo dono de um poderoso de time, que mais tarde foi a base da seleção brasileira de 94.
No dia 10 de junho de 1989 o Maracanã estava lotado e era possível se observar um fato curioso. Este era um dos raros dias em que a torcida do Flamengo não estava em maior número, numa decisão envolvendo o time. Os botafoguenses, loucos por um título, faziam uma festa maravilhosa no “Maior do Mundo” e passavam toda a confiança para sua equipe. A entrada dos times no gramado, quase que simultaneamente, fez o estádio ganhar vida. Bandeiras tremulavam, o barulho dos fogos era canção no ouvido dos torcedores e papéis voando completavam o cenário espetacular que precedia a decisão. Com o apito inicial, pôde-se ver um jogo pegado no meio-de-campo, com o Botafogo tendo armado uma verdadeira muralha na sua intermediária. A partida foi assim, morna, até os 15 minutos, quando o Flamengo teve uma falta nas proximidades da área alvi-negra. Zico pegou a bola para cobrança e corações aceleraram, porém o tiro foi fraco e o goleiro Ricardo Cruz defendeu facilmente. Esse lance poderia ser o primeiro de muitas oportunidades de gols, mas não foi o que ocorreu. Com exceção de um bom contra-ataque botafoguense, após bela roubada de bola do experiente lateral-direito Josimar, e um chute para fora do rubro-negro Alcindo, o jogo continuou fechado no meio-campo. Era o claro duelo entre a técnica flamenguista, que tentava abrir espaços com a qualidade dos passes, e a força alvi-negra, que bloqueava qualquer caminho que levasse à Ricardo Cruz. Aos 37 minutos, mesmo com tudo fechado, o Flamengo conseguiu uma grande chance de abrir o placar. O lateral-esquerdo Leonardo, vendo os espaços em sua frente interditados, cruzou da intermediária a bola para Bebeto que, mesmo marcado, conseguiu cabecear para monumental defesa de Ricardo Cruz. O jogo caminhava para o intervalo, quando o destino resolveu dar as caras. O ponta Gustavo contundido foi substituído por Mazolinha. Por falar em ponta, um fato envolvendo o outro ponta botafoguense, Maurício, viria a tona posteriormente. Maurício havia passado toda a manhã do jogo com muita febre e chegara a pedir para não ser relacionado, porém os próprios jogadores o fizeram mudar de idéia. Muito sumido em campo durante o 1º tempo, também pela falta de ofensividade de sua equipe, Maurício falou para o treinador Espinosa, no intervalo, que sentia estar prejudicando o time e queria sair. Espinosa respondeu que tiraria qualquer um de campo, menos Maurício, já que havia sonhado que este seria o autor do gol do título.
O Botafogo voltava para o 2º tempo com Mazolinha e Maurício em campo, porém o fato que animou a torcida alvi-negra foi o gesto de Zico pedindo substituição. Antes de sair, o Galinho ainda fez muitos torcedores prenderem a respiração ao cobrar uma falta que passou raspando a meta de Ricardo Cruz. Não foram poucos os suspiros de alívio após ser concretizada a saída de Zico para a entrada de Marquinhos. E este alívio botafoguense não duraria nem 1 minuto e já seria transformado em euforia. Aos 12 minutos do 2º tempo, a jogada que entraria para a história do futebol carioca. Mazolinha recebe passe na esquerda e arranca para cima de Jorginho. Antes de alcançar a linha de fundo, a bola é cruzada na direção de Maurício que, estica a perna para mandar a bola pro fundo das redes. Era dia 21. O termômetro do Maracanã apontava 21 graus. O gol ocorreu aos 12 minutos (21 ao contrário). O passe foi do número 14 Mazolinha e o gol do número 7 Maurício (14 + 7 = 21). O cruzamento foi o 21º realizado durante o jogo. E tudo isto pôs fim ao jejum de 21 anos sem títulos do Botafogo.
Botafogo 1 x 0 Flamengo
21 de junho de 1989
Maracanã - Público: 56.412 pagantes
Gol: 2º tempo: Maurício (Bot) aos 12 minutos
Botafogo: Ricardo Cruz; Josimar, Wilson Gottardo, Mauro Galvão e Marquinhos;
Carlos Alberto Santos, Luisinho e Vítor; Maurício, Paulinho Criciúma e Gustavo (Mazolinha). Técnico: Valdyr Espinosa.
Flamengo: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Zé Carlos Nascimento e Leonardo; Aílton, Renato Carioca e Zico (Marquinhos); Alcindo (Sérgio Araújo), Bebeto e Zinho. Técnico: Telê Santana.