Blogs Favoritos | Soccerlife no Twitter!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Recordar é viver: Após 21 anos, Botafogo volta a ser campeão

Por: Julio Marcellino

Sem ganhar um título desde 1968 o Botafogo entrou naquela final disposto a dar um fim no tabu. E seu adversário era o Flamengo dono de um poderoso de time, que mais tarde foi a base da seleção brasileira de 94.

No dia 10 de junho de 1989 o Maracanã estava lotado e era possível se observar um fato curioso. Este era um dos raros dias em que a torcida do Flamengo não estava em maior número, numa decisão envolvendo o time. Os botafoguenses, loucos por um título, faziam uma festa maravilhosa no “Maior do Mundo” e passavam toda a confiança para sua equipe. A entrada dos times no gramado, quase que simultaneamente, fez o estádio ganhar vida. Bandeiras tremulavam, o barulho dos fogos era canção no ouvido dos torcedores e papéis voando completavam o cenário espetacular que precedia a decisão. Com o apito inicial, pôde-se ver um jogo pegado no meio-de-campo, com o Botafogo tendo armado uma verdadeira muralha na sua intermediária. A partida foi assim, morna, até os 15 minutos, quando o Flamengo teve uma falta nas proximidades da área alvi-negra. Zico pegou a bola para cobrança e corações aceleraram, porém o tiro foi fraco e o goleiro Ricardo Cruz defendeu facilmente. Esse lance poderia ser o primeiro de muitas oportunidades de gols, mas não foi o que ocorreu. Com exceção de um bom contra-ataque botafoguense, após bela roubada de bola do experiente lateral-direito Josimar, e um chute para fora do rubro-negro Alcindo, o jogo continuou fechado no meio-campo. Era o claro duelo entre a técnica flamenguista, que tentava abrir espaços com a qualidade dos passes, e a força alvi-negra, que bloqueava qualquer caminho que levasse à Ricardo Cruz. Aos 37 minutos, mesmo com tudo fechado, o Flamengo conseguiu uma grande chance de abrir o placar. O lateral-esquerdo Leonardo, vendo os espaços em sua frente interditados, cruzou da intermediária a bola para Bebeto que, mesmo marcado, conseguiu cabecear para monumental defesa de Ricardo Cruz. O jogo caminhava para o intervalo, quando o destino resolveu dar as caras. O ponta Gustavo contundido foi substituído por Mazolinha. Por falar em ponta, um fato envolvendo o outro ponta botafoguense, Maurício, viria a tona posteriormente. Maurício havia passado toda a manhã do jogo com muita febre e chegara a pedir para não ser relacionado, porém os próprios jogadores o fizeram mudar de idéia. Muito sumido em campo durante o 1º tempo, também pela falta de ofensividade de sua equipe, Maurício falou para o treinador Espinosa, no intervalo, que sentia estar prejudicando o time e queria sair. Espinosa respondeu que tiraria qualquer um de campo, menos Maurício, já que havia sonhado que este seria o autor do gol do título.

O Botafogo voltava para o 2º tempo com Mazolinha e Maurício em campo, porém o fato que animou a torcida alvi-negra foi o gesto de Zico pedindo substituição. Antes de sair, o Galinho ainda fez muitos torcedores prenderem a respiração ao cobrar uma falta que passou raspando a meta de Ricardo Cruz. Não foram poucos os suspiros de alívio após ser concretizada a saída de Zico para a entrada de Marquinhos. E este alívio botafoguense não duraria nem 1 minuto e já seria transformado em euforia. Aos 12 minutos do 2º tempo, a jogada que entraria para a história do futebol carioca. Mazolinha recebe passe na esquerda e arranca para cima de Jorginho. Antes de alcançar a linha de fundo, a bola é cruzada na direção de Maurício que, estica a perna para mandar a bola pro fundo das redes. Era dia 21. O termômetro do Maracanã apontava 21 graus. O gol ocorreu aos 12 minutos (21 ao contrário). O passe foi do número 14 Mazolinha e o gol do número 7 Maurício (14 + 7 = 21). O cruzamento foi o 21º realizado durante o jogo. E tudo isto pôs fim ao jejum de 21 anos sem títulos do Botafogo.


Após o histórico gol de Maurício, o Flamengo não teve forças para buscar o empate. Talvez pela ausência de Zico, talvez pelo fato de a torcida do Fogão parecer ter entrado dentro de campo, o fato é que o alvi-negro criou mais chances de ampliar, do que o rival de empatar o placar. Na mais perigosa chance criada pelo Botafogo, Maurício tocou para Paulinho Criciúma no meio-campo, que lhe devolveu a bola em profundidade na ponta-direita. O número 7, fazendo jus à camisa de Garrincha que vestia, entortou dois marcadores e cruzou a bola com perfeição na cabeça de Paulinho Criciúma, que caprichadamente mandou a pelota no travessão. Realmente estes dois se davam muito bem. A torcida alvi-negra que não parava de gritar desde o gol marcado, arrumou uma maneira de fazer ainda mais barulho após o apito final do árbitro. Fim de jogo. A alegria que envolvia torcedores, jogadores, técnico, diretores, e todos os botafoguenses pelo país, era algo indescritível. No biênio 1967/1968, o Botafogo foi Bi-campeão Carioca contando com um dos maiores times do mundo. Nesta época, milhões de crianças e jovens decidiram bordar em seus corações, uma estrela solitária. Crianças viraram jovens sem comemorar um título. Jovens viraram adultou sem nunca gritar "É Campeão!". Foram mais de duas décadas que esta estrela, em cada coração alvi-negro, deixou de brilhar, mas após o gol de Maurício, todos se lembraram o imenso prazer de ser Botafogo.

Botafogo 1 x 0 Flamengo

21 de junho de 1989

Maracanã - Público: 56.412 pagantes

Gol: 2º tempo: Maurício (Bot) aos 12 minutos

Botafogo: Ricardo Cruz; Josimar, Wilson Gottardo, Mauro Galvão e Marquinhos;
Carlos Alberto Santos, Luisinho e Vítor; Maurício, Paulinho Criciúma e Gustavo (Mazolinha). Técnico: Valdyr Espinosa.

Flamengo: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Zé Carlos Nascimento e Leonardo; Aílton, Renato Carioca e Zico (Marquinhos); Alcindo (Sérgio Araújo), Bebeto e Zinho. Técnico: Telê Santana.


Um comentário: